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LUCAS

 

Sexta-feira, 29 de junho de 2018.

 

                                                                                                     IDA
   Acordei às oito horas da manhã, para me arrumar para ir a mesquita. A escolha do meu traje foi algo atípico do que eu geralmente uso. Mesmo sabendo que para os homens a vestimenta não precisaria ser tão longa, decidi vestir algo mais fechado, que não mostrasse meu corpo, visto que eu não sabia o que esperar no templo. Assim, fui de camisa social de manga comprida, com um tom rosado, uma calça jeans e um tênis.
   Marcamos de nos encontrar às 10h30, assim, sai de casa às 9h30, e segui para o ponto deônibus mais próximo, na Rua Carijós, em Santo André. Às 9h34 peguei o primeiro ônibus que chegou, o T-17, e segui meu caminho até o Terminal Oeste da cidade, de onde eu seguiria para a estação de trem Prefeito Celso Daniel encontrar-me com Letícia, Victoria, Talita, Stefanni e Beatriz, antes disso, entretanto, fui encontrar Paola no ponto do fretado da Universidade, no Terminal Leste, pois a mesma não conhecia o caminho até a estação. Pegamos o trem às 10:30 e seguimos para a estação da Mooca, onde encontramos Jennifer às 11h e Priscila às 11:10 e depois fomos a pé para a mesquita, onde encontramos Vanessa, às 11:30. Durante o percurso, não vi nada muito relevante no meu entorno, apenas os ambulantes que vendem produtos diversos dentro do trem e pessoas indiferentes andando na rua ou trabalhando. 

   Chegando na mesquita, fomos orientados a tirar os sapatos e entrar na área reservada para a cerimônia, eu entrei separado das meninas, dado que homens e mulheres sentam-se separadamente e em áreas pré-determinadas. Quando adentrei o local, reparei que estava praticamente vazio e quando fui procurar minhas colegas elas já estavam de véu, como as poucas mulheres que haviam no local. Fiquei extasiado com a beleza do teto em forma de cúpula, com tons azulados, avermelhados e dourados. O carpete tinha listras, as quais as pessoas se alinhavam para rezar antes do sermão.
   Mohammed, o fotógrafo oficial da mesquita, nos deu algumas instruções gerais, como, por exemplo: usar o tradutor simultâneo durante o sermão e nunca atravessar na frente de uma pessoa que esteja rezando, deve-se passar por trás. E nos ensinou que, de acordo com a cultura do islã, a mulher tem a opção de rezar em casa ou na mesquita, apenas o homem é obrigado a rezar no templo toda sexta-feira, esse fato explica o motivo pelo qual a área feminina seja tão pequena em comparação a masculina.
   Após instruir o grupo inteiro, Mohammed me guiou por uma parte do salão onde apenas eu poderia transitar durante a cerimônia, disse que seria melhor eu ficar sentado ao fundo, na parede, para facilitar meu deslocamento, levou-me para um andar superior onde se encontra a sala de tradução simultânea e me incentivou a tirar fotos de toda a mesquita.
   De volta ao térreo, ele me disse que o Sheik subiria ao púlpito e iniciaria o sermão às 12:30, durante este período eu poderia andar livremente pela área, porém preferi ficar sentado no fundo e apenas observar os fiéis, os quais me surpreenderam imensamente, visto que fui a mesquita esperando que todas as pessoas de lá fossem de uma determinada etnia e classe social, as quais eu tinha como estereótipo principal do povo muçulmano que mora no Brasil, felizmente eu estava errado, o local era extremamente multiétnico, com pessoas negras e brancas de origem árabe e europeia e aparentemente de todas as classes sociais. Durante o sermão, meu tradutor não estava funcionando, então fiquei a cerimônia inteira sem compreender nada e aproveitei para reparar nas roupas das pessoas, as quais se vestiam de inúmeras formas desde o casual, esporte-fino até roupa de time de futebol ou vestes típicas, senti-me um pouco formal demais para a ocasião.
   O fim do culto deu-se quando o Sheik desceu do púlpito, às 13:20, a partir desse momento, as pessoas se alinharam e iniciaram a reza e eu me desloquei para uma área onde não havia pessoas rezando. Durante a oração, os fiéis se levantavam e agachavam pondo a cabeça no chão, inúmeras vezes.
   Ao fim completo da cerimônia, minhas colegas se dirigiram para a área masculina, com uma garota síria, a qual aparentava ter de 15 a 20 anos, para tirar mais fotografias. Logo depois, devolvi meu tradutor simultâneo e quando ia me dirigir para a saída, um homem alto, negro, com aproximadamente 30 anos e com sotaque diferente me abordou e perguntou-me se eu era brasileiro e se sou convertido, eu disse que fui apenas conhecer o local e afirmei minha nacionalidade.
   Já no lado de fora, um homem alto, branco, com prováveis 35 anos, com sotaque diferente e de olhos extremamente azuis me abordou também, porque eu estava visivelmente perdido procurando água para beber, visto que o galão estava vazio, assim ele me levou até um bebedouro e
começou a conversar comigo. Ele era sérvio e também me perguntou se eu era brasileiro. Durante a conversa, comentei sobre a mistura de etnias do local e ele me relatou que a mesquita é a casa de todo muçulmano, assim, sempre que alguém sai de seu país de origem, é no templo que se encontra os seus “irmãos”.

VOLTA

 

   Após a conversa, reparei que haviam ambulantes vendendo comidas e artigos árabes, porém eunão me atentei muito a isso, depois encontrei minhas colegas e fomos embora às 13:40, Vanessa foi para sua casa e as demais voltaram comigo para Santo André, durante a volta, comentamos
muito sobre o dia, as meninas falaram que as mulheres as trataram superbem e que conversaram com uma menina síria de 14 anos, a qual aparentava mais velha, devido ao que passou na guerra; e eu comentei que os homens pouco conversaram comigo e também que eu não esperava a diversidade daquele local. Chegando em Santo André, às 14:30, Leticia foi embora e nos dirigimos ao shopping para almoçar e depois nos separamos, Paola, Victória e Talita ficaram no shopping e Priscila foi para UFABC-SBC; às 15:30 eu, Jennifer e Beatriz seguimos a pé para a prefeitura de Santo André, para votar em representantes estudantis ligados a UFABC. Saindo de lá, seguimos para o ponto do fretado, encontramos meu amigo Leonardo, da Turma A e seguimos para o Campus SBC, às 16h. Chegando lá, fomos para um bar próximo a Universidade e ficamos lá até dar o horário de entrarmos na primeira e única aula do dia (Estado e Relações de Poder), às 21h. Após a aula fui embora para minha casa.

Sábado, 30 de junho de 2018.

 

   Acordei cedo, às 8h de novo, pois eu tinha reposição de aula na universidade, a qual começaria às 11h, porém cheguei às 9h para estudar. Antes da aula encontrei Priscila, a qual estava se dirigindo ao Bloco Alfa 1 para dar aula de português para refugiados, fui conhecer e reparei que
vários deles aparentavam ser muçulmanos, devido aos véus que as mulheres usavam, de imediato lembrei do dia anterior. Voltei para os sofás do Bloco Beta. Quando chegou o horário da minha aula, encontrei meu amigo Leonardo e decidimos ir para o Campus SA para estudar lá, ou seja, faltei na aula. Chegando no outro campus, almoçamos no Restaurante Universitário e fomos estudar, mas fui embora cedo. Já em casa, senti falta da curiosidade dos meus pais em relação ao dia anterior, pois ambos sabiam que eu iria para a mesquita. Eu estava realmente empolgado em descrever meu dia a eles, entretanto não tive abertura para o assunto, fiquei frustrado, porém não foi nada muito relevante.

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