
TALITA
PREPARAÇÃO
Escolhido o evento, meu questionamento foi em relação a vestimenta, pois pesquisando sobre pude perceber que há algumas regras para visitação como os homens e mulheres precisam cobrir os ombros, braços e pernas, as mulheres precisam também cobrir os cabelos e utilizar trajes que não desenhem a silhueta do corpo. Preferi ligar para Mesquita Brasil para verificar as informações, e fui atendida pelo Mohammed que confirmou os dados e se disponibilizou em nos acompanhar durante a visita. Procurei então por vestimentas adequadas, e percebi uma certa dificuldade em achar uma roupa ideal. A maioria das roupas que possuo não se encaixam neste padrão, mas por fim encontrei uma calça larga social preta, uma camisa social verde de manga cumprida e um lenço preto que poderia usar para cobrir os cabelos.
A IDA
Decidimos ir ao evento em uma sexta-feira (29/06/18), o sermão começaria as 12h30, e em razão dos integrantes do grupo morarem em diferentes regiões de São Paulo, combinamos que parte de nós se encontraria na estação Santo André, outra parte na estação Juventus- Mooca e a última em frente a Mesquita. Acordei ás 8h vesti os trajes acima descritos e levei uma mochila com materiais para estudo devido ser um dia letivo na UFABC (Universidade Federal do ABC) a qual sou aluna. Estava muito ansiosa e animada com a oportunidade de conhecer uma nova cultura, religião, pessoas diferentes e sair da minha zona de conforto. Desloquei-me as 9h de casa caminhando até o ponto de ônibus mais próximo. Embarquei no ônibus intermunicipal as 9h15, o mesmo estava ligeiramente cheio de pessoas, em sua maioria com rostos sonolentos e roupas com tecidos leves pois a temperatura estava alta. As 9h50 embarquei em um trem na estação de Ribeirão Pires – linha 10, sentido Brás, e desembarquei ás 10h20 na estação Santo André. Avistei a Leticia, Stefanni, Lucas, Paola, Victória e Beatriz me juntando a primeira parte do grupo. Em seguida embarcamos novamente no trem ás 10h30 e fomos ao longo do percurso conversando sobre nossas expectativas, o vestuário diferente que estávamos usando etc. Chegamos na estação Juventus-Mooca por volta de 11h, avistamos a Jennifer, e aguardamos até 11h10 pela Priscila. Partimos então em direção a Mesquita caminhando.
Ao longo do trajeto até o evento, pude fazer algumas observações, próxima a estação Mooca escutei um som musical de uma pessoa tocando algo parecido como um trompete. Infelizmente não consegui me aproximar e escutar melhor pois o som vinha de uma sala fechada, mas gostaria de parabenizar publicamente neste blog pela ótima música. Notei também como o bairro possui muitas fábricas abandonadas, dentre a qual destaco o antigo complexo de cervejaria Antarctica. O percurso de ida durou 2h30.
O EVENTO
Chegamos na Mesquita por volta de 11h30, nos reunindo com a Vanessa última integrante do grupo que faltava. Logo na entrada haviam mulheres vendendo pão libanês, azeitonas, esfihas, chás e algumas embalagens continham a descrição em árabe.
Fomos recebidos por um segurança que nos explicou que há duas entradas, uma para mulheres e outra para homens. Nos despedimos então do Lucas que entrou por outra porta. Nós, as mulheres, seguimos por um corredor que nos levaria a segunda entrada, e notei versículos do alcorão pintados nas paredes desse corredor na língua árabe, portuguesa e inglesa. Destaco o versículo que me chamou atenção:
‘’ E qualquer pessoa que crê em Allah, Allah guia o seu coração” Alcorão (64:11)
Ao chegarmos na entrada para as mulheres, nos guiaram para uma salinha a qual poderíamos nos trocar se quiséssemos, com uma cômoda que continha gaveteiros com véus brancos e saias brancas largas. Optei por continuar com a vestimenta que estava. Em seguida seria necessário tirar os sapatos e as meias para adentrar, deixamos os mesmos em uma prateleira perto da porta.
Ao entrarmos a arquitetura do local se destacou, com várias colunas brancas dispostas por toda a sala de orações formando arcos. O teto é uma cúpula e parte das paredes tinham versículos do alcorão, as cores predominantes eram azul, dourado, vermelho, branco e marrom. Haviam mosaicos de estrelas, círculos, ramificações de flores, e um grande lustre marrom com luzes verde, amarelo e azul, seguido por lustres menores por todo o salão com luzes brancas, além de um púlpito enorme. O chão era um carpete azul com linhas brancas horizontais, dispostas de forma que as pessoas possam fazer sua oração curvadas em direção a cidade de Meca (cidade da Arábia Saudita considerada a mais sagrada no mundo para os muçulmanos), as mulheres ficam atrás dos homens, também separadas, por 2 fileiras horizontais de cadeiras.
Mohammed nos encontrou e explicou sobre o funcionamento do sermão que acontece em árabe, porém há aparelhos de transmissão e tradução para os não nativos da língua, geralmente com duração de 1h, onde o líder (Sheik) subiria ao púlpito (chamado de mambar por eles) e realizaria o sermão. Nos contou também sobre a história da Mesquita Brasil, primeira da América latina construída em 1929, sobre as aulas de religião e leitura do alcorão que acontecem no local, e nos disse que o sermão seria transmitido ao vivo pelo Facebook. Logo após, nos deixou à vontade para interação do local. Fui ao banheiro e nele existia um lavatório especifico para os pés em vermelho e bege. Em seguida me juntei ao grupo e aguardamos o início do sermão, a todo momento chegavam pessoas brancas, negras, pardas, loiras, ruivas, morenas, com trajes discretos de forma a cobrirem ombros, braços e pernas. Haviam crianças, com roupas sem restrições. Um homem cadeirante também estava presente, e as pessoas ao redor sempre estavam atentas em ajuda-lo a participar. Cumprimentavam-se com beijo no rosto, e conversavam entre si em árabe em tom baixo.
Por volta de 12h pelo auto falante havia uma gravação com versículos do alcorão sendo recitados em português e árabe. Em uma prateleira perto da entrada notei vários exemplares do alcorão para leitura, e ao lado um fone e radio tradutor, o retirei e as 12h30 um homem subiu ao mambar, as pessoas se levantaram e logo após se sentaram para ouvir o sermão. Era perceptível que havia um número maior de homens do que mulheres na sala de orações, mas Mohammed nos explicou que de acordo com a religião apenas o homem é obrigado a estar presente na Mesquita para rezar, as mulheres podem optar por rezar em casa ou no templo. O aparelho tradutor em que eu utilizava não estava com o som nítido, porém os trechos que consegui ouvir reparei que o sermão se travava sobre a Copa do Mundo e a relação com esportes, que são aceitos pelo islamismo, porém a pratica de apostas é condenável.
Ao fim do sermão as pessoas levantaram-se e o homem que estava a falar desceu do mambar e começou a rezar em árabe juntamente com todos. Depois houve um segundo momento de oração, as pessoas de joelhos curvavam o tronco e o levantavam em direção ao chão repetidas vezes. Fiquei em dúvida se deveria me curvar também, e uma moça percebendo minha indecisão e das outras integrantes, me informou que estava tudo bem, e que poderíamos observar tranquilamente sentadas. Depois do termino da oração, todos começaram a se despedir com beijos no rosto e a ir embora. Nesse momento eu e as outras mulheres do grupo conseguimos nos reunir com o Lucas para melhor observar o local, e uma moça se ofereceu para nos guiar, nos deparamos então com uma porta que levava a uma área de convivência com bancos em madeira, vasos com flores e o chão em piso. Ela perguntou se era nossa primeira vez na Mesquita, nos contou que é palestina e perguntamos como poderíamos agradecer em árabe por toda receptividade e ajuda, aprendemos então a palavra ‘’ Shukraan’’ (شكرا لك) que significa ‘’ obrigado’’. Mohammed nos saudou ao sairmos, e convidou-nos para uma próxima visita.
A VOLTA
Fomos embora em torno de 13h40, nos despedimos da Vanessa que seguiu caminho por ônibus, e o restante foi caminhando até chegar na estação de trem Mooca ás 14h. Embarcamos no trem e conversamos sobre essa nova experiência, a pluralidade de indivíduos que estavam presentes, em como todos foram sempre receptivos e solícitos. Desembarcamos na estação Santo André ás 14h30, nos despedimos da Leticia, e os integrantes que ficaram inclusive eu foram juntos almoçar no Shopping Grand Plaza. Posteriormente me despedi da Jennifer, Beatriz, Lucas, Victória, Priscila e Stefanni, e fui embarcar no fretado da UFABC com a Paola em torno de 15h50. Cheguei na faculdade as 16h30, me despedi da Paola, estudei textos da disciplina Estado e Relações de Poder (ERP) até as 19h na biblioteca, encontrei-me novamente com a Paola para jantarmos no Restaurante Universitário, e aguardamos a única aula da noite ERP começar ás 21h.
Na volta para casa, após pegar o fretado novamente, embarquei no trem em Santo André, desci na Estação Ribeirão Pires e peguei o ônibus intermunicipal que passa próxima a minha residência (moro em Suzano) chegando em casa ás 00:20 já do sábado dia 30/06/18, extremamente cansada. O percurso de volta, excluindo as pausas durou cerca de 2h10.
SENSAÇÕES NO DIA SEGUINTE
Ao acordar pela manhã refleti sobre o preconceito que eu havia estabelecido sobre a cultura muçulmana, imaginei que não seriamos bem recebidos por não sermos praticantes, mas essa ideia provou-se extremamente errada, fomos muito bem acolhidos. Me senti muito feliz e satisfeita por essa nova experiência.
Gostaria de em um futuro próximo participar das aulas de religião oferecidas pela Mesquita, para compreender melhor, e incentivar mais pessoas a conhecerem outras culturas, e visões de mundo.
