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PRISCILA

29 DE JUNHO DE 2018

IDA AO EVENTO

   No dia do evento, foi combinado que o grupo se encontraria às 11h00 na estação Mooca. O "sermão" teria início às 12h30 na Mesquita, porém pretendíamos chegar com antecedência para que fossem recebidas as orientações necessárias e fosse realizado registro do local.

Era uma sexta feira, acordei 8h30 e por ter chegado tarde da aula no dia anterior, acabei não separando a roupa que iria vestir. Fazia calor desde cedo, mas tínhamos sido previamente avisadas que era necessário ir com roupas largas, de cor clara e que cobrissem todo o corpo, além de claro: cabelos cobertos. Percebi que não tinha roupas nesse estilo, e acabei tendo que optar por olhar o guarda roupa da minha mãe. Escolhi uma calça larga de cor marrom, e uma blusa de frio bege. Peguei também um lenço da mesma cor que a calça para usar como hijab quando chegássemos na Mesquita. Estava desconfortável na roupa que escolhi, porque além de não ser algo que usaria em dias comuns, antes mesmo de sair de casa já estava passando calor.

   Saí de casa ás 9h50, peguei o primeiro ônibus, que iria em direção ao terminal Palmeiras - Barra Funda. Havia poucas pessoas no transporte e muitos assentos vazios, apesar das ruas já estarem bem movimentadas. Maioria das pessoas usavam roupas de calor, já que a temperatura estava por volta dos 26°C. O trajeto demorou cerca de 50 minutos, acabei cochilando até chegar no terminal. Chegando lá, o calor me incomodava, mas segui em direção ao metrô. Teria exatamente 6 estações até chegar ao Brás e pegar o outro trem sentido Mooca - Juventus. O metrô tinha poucas pessoas, muitas delas usando o celular. Cheguei no Brás e fui em direção ao trem. Apenas mais uma estação e estaria na Mooca. O resto do grupo já estava me esperando. Peguei o trem às 11h00 e cheguei na estação 11h10. Saímos da moca e andamos aproximadamente 20 minutos. Muito sol, muito calor e muitos carros.

   Caminhamos pela Av. do Estado, e logo depois atravessamos uma passarela. De lá já era possível ver a torre da mesquita.

 

 

CHEGADA AO EVENTO

Apesar da estação mais próxima ser a Mooca, o templo pertence ao bairro do Cambuci, que é um dos bairros mais antigos de São Paulo, com 110 anos. Pelo trajeto que fizemos, aparenta ter muitas fábricas na região.

Quando chegamos, na entrada havia barraquinhas com pães sírios e outras comidas árabes a venda. Antes mesmo de entrarmos, fomos abordadas e perguntaram se precisávamos de auxílio. Nos informaram que haviam duas entradas: uma para homens e outra para mulheres. O Lucas, único homem do grupo, fez outro caminho que a gente. Desde a porta, percebe-se que é tudo muito luxuoso, ambiente cheio de detalhes, e com informativos do lado de fora sobre eventos, viagens, e outras coisas que a Mesquita fornece para seus frequentadores. Fomos levadas para uma sala a parte, que antecede a entrada principal das mulheres. Nessa sala ofereceram hijab para quem não tinha levado, e as que já tinham foram se arrumando. Era também necessário tirar os sapatos. Havia local para guardar os pertences. Após a retirada dos sapatos, havia a entrada do banheiro, que é considerado um dos lugares sagrados, por ser onde se purificam antes da cerimônia, caso não tenha sido possível fazer isso em casa. O banheiro era extremamente luxuoso, todo vermelho com lugar para lavar os pés, muitos espelhos e muitas luzes. Feito isso, foi liberada nossa entrada na mesquita. Todas descalças, nos deparamos com uma riqueza de detalhes em dourado, e um lindo tapete que cobria todo o piso. Fomos liberadas para tirar fotos de tudo. Depois dos registros, o Mohammed, que foi nosso guia lá dentro, nos chamou para fazer algumas colocações antes que se iniciasse a cerimônia.

   Ele nos contou a história do templo. A Mesquita Brasil foi a primeira a ser construída na América Latina, e existe desde 1929, além de ser responsável pela escola Islâmica Brasileira, que foca na religião e língua árabe. Foram dados detalhes da arquitetura do lugar, que era impecável. O foco estava no teto e nos arcos. Nos foi explicado que há dois estilos de desenhos: o primeiro é baseado na matemática, porque os primeiros cientistas matemáticos foram muçulmanos, e o segundo estilo se baseava na arte de florais, além de algumas decorações com versículos do alcorão sagrado pela parede, com o nome de Alá. Alguns destes desenhos foram feitos à mão, outros colados.

Faltava um breve tempo para começar a cerimônia, e Mohamed continuou a nos dar explicações. Foi dito que na maioria das vezes, há sempre mais homens do que mulheres nas mesquitas, devido a obrigatoriedade de os maridos rezarem no templo, enquanto as mulheres podem optar por rezar e fazer a leitura do alcorão em casa.

   Desde a entrada do templo, foi nítida a separação entre homens e mulheres, que não se misturaram em nenhum momento durante o evento. Achei notável também, o fato dos homens ficarem na frente, bem mais próximo ao Sheik, enquanto as mulheres estão bem mais ao fundo.

Alguns minutos antes da cerimônia ter início, nos orientaram a sentar preferencialmente no chão, ou nas cadeiras e sofás.

   Começou pontualmente ás 12h30 e teria em torno de 1h30 de duração.

   As moças que se sentaram perto, logo perceberam que éramos de fora e foram a todo momento muito receptivas. Havia uma mistura de negros e brancos no local. Eu continuava sentindo muito calor, e queria muito levantar pelo menos as mangas da blusa, mas as orientações eram claras de que lá dentro o corpo todo deveria estar coberto.

   Recebemos fones de ouvido, que tornaria possível a tradução simultânea, já que o sermão é dado na língua árabe.

   No primeiro momento foram tocadas músicas em árabe, até a chegada do Sheik. Percebi que há um costume muito sagrado em beijar o chão da mesquita, e fazer o mesmo com o alcorão. 

   O tema do sermão foi surpreendente: Atletismo no islã. Foi citado a Copa do mundo, e como é um assunto atual inclusive no mundo árabe. De início a tradução estava péssima. Foram feitos muitos questionamentos sobre a quantidade de dinheiro que estava sendo investida no futebol mundial e se o islã e o profeta estavam ou não de acordo com essa disputa na ginástica internacional. Foi também deixado claro que o islamismo incentiva sim a prática do esporte para o condicionamento físico, apesar de condenar essa exposição corporal dos indivíduos a nível mundial. O Sheik conclui dizendo que esportes são permitidos, mas disputas e apostas são totalmente condenáveis por Alá.

   A todo momento havia fotógrafos oficiais da Mesquita Brasil registrando a cerimônia. Foi tudo muito rápido, durou em torno de 50 minutos. Ao fim do sermão, houve a oração final, todos beijam novamente o chão, se cumprimentam e vão embora. Muitos receptivos do início ao fim.

   Voltamos para a salinha onde havíamos deixado nossos pertences, para retirar o véu, colocar os sapatos, etc. Nesse meio tempo tive a oportunidade de conversar com uma das moças muçulmanas, que a todo momento estava muito aberta a troca de experiências, deu detalhes de vivências traumáticas que passou na Síria, e como foi bem acolhida no Brasil, isso tudo com apenas 14 anos de idade. Por fim, após todas terem se vestido, fomos para a saída, agradecemos ao Mohamed que nos ofereceu um agendamento para conversar diretamente com o Sheik, e fomos embora em direção a estação novamente. Ainda na saída, havia novamente barracas de comidas sírias, e outros objetos de origem árabe.

 VOLTA DO EVENTO

Saímos de lá por volta das 13h40, e estávamos todas morrendo de fome. Fomos novamente em direção ao metrô, continuava muito sol. Dessa vez o trem estava cheio, e a todo momento eram oferecidas mercadorias durante o trajeto. Fomos sentido Santo André, e ao chegarmos na estação, fomos ao shopping que fica ao lado para almoçar. Assim que cheguei fui no banheiro trocar de roupa, enquanto o restante estava fazendo os pedidos das refeições. Algumas comeram prato feito, outras fast-food. Após o almoço, uma parte da turma se dividiu em direção ao campus de São Bernardo, e a outra voltou para casa. Acabei indo em direção a SBC com mais dois integrantes do grupo. Cheguei por volta das 16h na universidade, e só teria aulas ás 21h. Emendamos um programa com a maioria do pessoal da sala num barzinho perto da UF, ficamos até as 20h30 ouvindo música e tomando algumas bebidas e logo depois fomos assistir a aula de Estados e Relações de Poder do Prof. Vitor Marchetti. Estava exausta ao fim do dia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SENSAÇÕES DO DIA SEGUINTE

No dia seguinte, acordei ás 5h30 justamente para ir dar aulas aos refugiados árabes que citei no início do relato. Acordei contando tudo para a minha mãe: sobre a luxuosidade do lugar, sobre a união que é possível ver de longe na comunidade árabe, sobre a receptividade sem igual, e sobre o quanto foi enriquecedor ter conhecido a Mesquita.

Cheguei na universidade animadíssima para contar a experiência do dia anterior aos meus alunos, e mostrei todas as fotos possíveis para alguns deles, que já se familiarizaram ao ver o registro do local.

Descobri que TODOS são muçulmanas, e inclusive ouvi de um deles que agora devo ir não só para tirar fotos, mas também para rezar. Percebi naquele momento que eu achava que estava ensinando e compartilhando da minha cultura com eles, mas na verdade é uma via de mão dupla, e na maioria esmagadora das vezes: aprendo muito mais do que ensino.

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